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25 agosto 2007 

O fim do horizonte

Eduardo Prado Coelho, 1944-2007

«Na minha qualidade de alguém que fez recentemente um transplante de fígado, sinto-me em condições privilegiadas para poder reflectir um pouco sobre a condição hospitalar. Devo dizer que a experiência teve momentos difíceis, em que o desânimo chegou a dominar-me. Comecei por uma situação catastrófica no Hospital Curry e Cabral, já depois de ter tido uma estadia em Santa Maria, que é, devo dizê-lo sem ambiguidades, o inferno sobre a terra. Santa Maria, nunca mais. Felizmente, aconteceu que me apareceu a visitar o prof. Monteiro Grilo, e ele teve a generosidade de me propor que passasse os meus dias numa sala desactivada dos serviços de Oftalmologia, onde podia ouvir música, a minha música, receber os amigos e as visitas com total à-vontade, e onde me sentia verdadeiramente um privilegiado. É que Monteiro Grilo me evocava (julgo que é sobrinho) um grande amigo do meu pai, o professor universitário Monteiro Grilo, que, como poeta, adoptou o pseudónimo de Tomás Kim. Se não estou em erro desapareceu bem cedo da face da terra, fulminado por uma crise, que suponho cardíaca, em pleno Rossio. Não se morre no Rossio, comentou um outro poeta, cujo nome não me ocorre agora. Aristocratismos... Morre-se em todo o lado, e por vezes das formas mais violentas.»

(EPC, 19 de Abril de 2007)

Quando se diz que o Sporting é um clube das elites, isso também tem muito a ver com o facto de ter adeptos e simpatizantes intelectuais como EPC, sem pejo de assumir que gostam de futebol e que têm um clube. EPC, que cultivava uma atitude aristocrática, não tinha preconceitos pseudo-intelectuais. Era capaz de escrever sobre o “nosso” Sporting e, mesmo assim, ser lido por quem detesta futebol. Porque quando escrevia sobre futebol abordava o fenómeno como uma pessoa normal. Com coração, cabeça e estômago. Também por isso, sendo um homem assumidamente de esquerda, chegando, às vezes, a escrever como se de um “spin doctor” do PS se tratasse, era lido e respeitado em todos os quadrantes políticos. Porque era livre nas suas escolhas, nos seus elogios e nas suas críticas. Desde a fundação do jornal “Público”, em 1990, EPC escrevia diariamente sobre as grandezas e as misérias da cultura, da política e da sociedade portuguesas, a partir dos episódios do quotidiano. Tinha amigos de estimação. E inimigos também. Como qualquer ser humano marcante e perene.

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B.I.

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