29 junho 2008 

Breviário de palcos: bestiário de sonhos

O Circo Invisível

Podem ser os rótulos a encher a sala («os inventores do Novo Circo», «os inspiradores do Cirque du Soleil», a filha de Charlie Chaplin), podem ser os truques de ilusionismo e as palhaçadas de circo a abrir os olhos e os sorrisos das crianças, mas aquilo que realmente sobressai do circo de Victoria Chaplin e Jean-Baptiste Thierrée é a forma divertida e bela como ambos subvertem as regras do velho circo num espectáculo louco e mágico, hilariante e surrealista, onde pêras dançam sozinhas e biombos toureiam cadeiras, onde coelhos e patos partilham o palco com restos de bicicletas e bules gigantes levam marionetas pela mão, onde o ilusionismo é uma desculpa para a piada e o malabarismo é apenas um meio para a verdadeira ilusão. Se estivessem na plateia, Dali, os irmãos Zucker e Alice veriam como é o circo do outro lado do espelho.
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24 junho 2008 

Breviário de fitas: Enter the panda

O Panda do Kung Fu, Mark Osborne & John Stevenson

«- You... you're just a big... fat... panda!
- I'm not a big fat panda. I'm THE big fat panda.
»

De Bruce Lee a Jet Li, de Karate Kid a Kill Bill, de Hong Kong a Hollywood, todo o kung-fu que o cinema nos deu vive entre os ossos e as banhas deste rechonchudo e simpático panda. Herdeiro do ogre verde e da abelha de Seinfeld, o Panda do Kung-fu é, sobretudo, um passo em frente na evolução da fábrica de animar desenhos, disfarçado de divertida aventura. Por isso é que, para lá de uma estória tão hilariante quanto comovente (e que vai beber tanto ao treino do karate kid como às aventuras das tartarugas-ninja) e de um elenco de vozes de luxo, o que salta à vista são os pormenores: o pelo de Po, o olhar de Shifu, a sabedoria de Oogway, o carinho de Mr. Ping... e, provavelmente, as melhores cenas de artes marciais que o cinema de animação alguma vez nos deu.
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20 junho 2008 

Op.Team.Mystic

Uma noite no Lounge para esquecer mágoas e afazeres.

12 junho 2008 

Breviário de fitas: infernal affairs

Obsessão mortal, Andrew Lau

Não sendo nem a obra-prima que os mais fervorosos auspiciavam nem o desastre que os mais pessimistas anunciaram, a estreia em inglês de Hollywood de Andrew Lau - o criador da trilogia Infernal Affairs (a tal que Martin Scorcese transformou em The Departed) - sabe mais a projecto para apalpar terreno do que a obra completa. The Flock é apenas mais um thriller formatado, algures entre Criminal Minds e The Mothman Prophecies, com Richard Gere e Claire Danes em velocidade de cruzeiro e uma narrativa que só ao de leve toca o chocante. Ainda assim, não é desta que perdemos o respeito ao homem que criou um dos melhores policiais de Hong Kong.


PS: Mas que obsessão é esta de chamar mortal a tudo e mais alguma coisa? Ele é a Escolha mortal, ele é a Boleia mortal, ele é a História mortal, ele é o Jogo mortal, ele é o Encontro mortal, ele é a Invasão mortal, ele é o Ciclo mortal, agora é a Obsessão mortal... Raios, que isto de traduzir títulos de filmes anda pela hora da morte!
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07 junho 2008 

Breviário de leituras: Estorvo

Estorvo, Chico Buarque

«Quatro anos e meio vivi com essa mulher. Mas vivi de me trancar com ela, de café na cama, de telefone fora do gancho, de não dar as caras na rua. Um sorvete na esquina, no máximo uma sessão da tarde, umas compras para o jantar, e casa. Entrei nuns empregos que ela me arrumou, na segunda semana eu caía doente, e casa. No último ano foi ela quem começou a trabalhar fora. Argumentei que ela tinha diploma universitário, que podia aguardar melhores oportunidades, e disse "não vai se adaptar". Mas se adaptou, levava jeito, tomou gosto, virou gerente de vendas e nunca pegou nem um resfriado. Eu esperava por ela em casa. Habituei-me sem ela em casa, andava nu, cantava. Mudava a arrumação da sala, planejava empapelar as paredes. Já gostava mais da casa sem minha mulher. Sozinho em casa eu tinha mais espaço para pensar na minha mulher, e era nela fora de casa que eu mais pensava. Às vezes ela chegava tarde da noite e ia ao banheiro, e bulia na cozinha, e ligava a televisão sem necessidade, e isso me dava um tipo de ciúme da casa. Preferia não ver, e amiúde fingia estar dormindo. De manhã, deixava-a acordar sozinha, abrir e fechar gavetas, ligar o chuveiro, bater vitamina e sair para o trabalho. Só então começava a minha jornada, que era andar de um lado para o outro da casa, lembrando-me da minha mulher e consertando as coisas. Um dia ela propôs a separação. Eu entendi e disse que ia continuar pensando nela do mesmo jeito, a vida inteira. Já deixar a casa foi mais difícil. Eu não saberia como me lembrar da casa. Era dentro da casa que eu gostava da casa, sem pensar.»
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Ao princípio de uma vida o fim de outra

Mais um primo pela noite. Menos uma tia pela manhã. Que a natureza se encarrega de equilibrar as coisas.

04 junho 2008 

Breviário de fitas: o monstro precisa de amigos

O Incrível Hulk, Louis Leterrier

«- There are aspects of my personality that I can't control.
- See a shrink.
- It's a little more complicated than that...
»

Não sendo uma sequela, não sendo um remake, o Hulk de Louis Leterrier soa a espécie de reboot do Hulk de Ang Lee. Mas tal como o Hulk de Lee não era, necessariamente, um mau filme, também o Hulk de Leterrier não é, necessariamente, um filme melhor (nem Edward Norton é um Hulk mais convincente que Eric Bana). Comparações à parte, o que fica deste Hulk 2.0 é, sobretudo, uma boa dose de acção, um boneco bem bolado e uma mão cheia de piscadelas de olho a próximas aventuras do Hulk... e não só...
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B.I.

Coisas Breves

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