31 outubro 2007 

Breviário de fitas: os incorruptíveis contra a droga

American gangster, Ridley Scott

«Judges, lawyers, cops, politicians... They stop bringing dope into this country, about a hundred thousand people are gonna be out of a job.»

A fórmula está criada para o sucesso: Denzel Washington + Russell Crowe + Ridley Scott só poder dar certo. Certo? Certinho - que é, aliás, o adjectivo certo para ficar colado ao rótulo deste épico made in Harlem. Certinho, competente, eficiente. Empolgante e emocionante, a espaços. Mas poucas vezes brilhante. Como no mui bem encenado frente a frente entre Denzel e Russell (12 anos depois). Como na brutal cena inicial. Como na eloquente cena final. Ainda assim, Washington, Crowe e, sobretudo, Scott já nos deram melhor (as surpresas, as revelações e as confirmações ficam no muito bem amanhado lote dos secundários). O lustro está bem puxado, só lhe falta o brilho.
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In headaches

Acabei de realizar que o novo álbum dos Radiohead me dá dores de cabeça. O raio do disco incomoda-me, raistaparta.

30 outubro 2007 

Com mil e uma palavrinhas apenas se escreve a palavra jornal (descubra as diferenças)

Público, 30-10-07 The Independent, 11-05-07

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Music to rule a country by (descubra as diferenças)

Susilo Bambang Yudhoyono, 2007 General Wiranto, 2000

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Press-re-re-re-re-re-re-re-re-lease

O que é que levará quem quer que seja a incluir num press-release a mesma imagem 36 vezes?

 

Saudade (revista de postas)

«Perhaps it was the quietness of the cafes in the mornings, where couples sit side by side and speak in low voices as if not to disturb their neighbors. Even at a touristy seaside overlook near Lisbon, it was a busload of Spanish tourists that were gabbing away excitedly and bubbling about, injecting life into what was otherwise just a postcard perfect backdrop.

There is an overall quietness to life here that makes you reflect.
»
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29 outubro 2007 

Frankly, my dear...

Diz que são as «Top 10 movie one-liners of all-time». E no entanto, onde está «Rosebud» e «Mrs. Robinson, you're trying to seduce me» e « I coulda been a contender» e «You're gonna need a bigger boat» e «ET phone home» e «Here's Johnny» e «My precious» e «Yippee-kai-yay motherfucker» e...?

 

Breviário de fitas: doc 2

Bomb it, Jon Reiss

Todas as histórias, todas as paredes, todas as cores, todas as vozes, todos os tags. Todas as ideias, todos os conceitos, todos os preconceitos, todos os prós, todos os contras. Tudo o que haveria para dizer e mostrar, Bomb it conta e revela. Talvez faltem mais paredes de Filadélfia, talvez faltem mais perspectivas histórico-políticas, talvez. Mas só isso não chega para tirar a Bomb it o mérito de ser uma obra impressionante e um emocionante manifesto.
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Breviário de fitas: doc 1

Manufacturing dissent, Rick Caine & Debbie Melnyk

O problema de Manufacturing dissent não é querer desmascarar Michael Moore usando os mesmos truques de que acusa Michael Moore. O problema de Manufacturing dissent não é tentar ser divertido e chocante sem provocar um sorriso ou revelar uma bomba que seja. O problema de Manufacturing dissent náo é o facto de mostrar mais da América de hoje do que que objecto de investigação. O problema de Manufacturing dissent não é o facto de nos dar a conhecer o lado grosseiro e burgesso de Michael Moore (porque o lado demagógico e manipulador já não é novo). O problema de Manufacturing dissent é simplesmente o facto de não explicar grande coisa e nos deixar com a leve sensação de que há uma qualquer segunda intenção que fica por contar.
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Mais perto de coisa nenhuma do que do que quer que seja (notas de viagem)

Por mais país que se percorra, Évora será sempre Évora...

À beira da cidade, um anúncio de saúde pública acaba com a seriedade do assunto: «Dificuldade em falar? Ligue 112».

No centro do Alvito, as ruas têm nome de coisa: Rua das Manhãs, Rua dos Lobos, Travessa dos Vidros, Travessa do Prior da Lampreia, Praça do Relógio...

Com bom tempo e tempo para olhar, a viagem entre Alvito, Cuba, Beja, Mértola, Minas de São Domingos, Serpa e Vidigueira é de uma beleza esmagadora.

Portas meias com o mercadinho de Mértola, o restaurante Migas é apertado mas atrai o apetite. Metros antes, o café Guadiana recebe de braços abertos numa esplanada que convida à preguiça.

O Viva Velha, na Vidigueira, vale bem a viagem: é, provavelmente, um dos melhores restaurantes do Alentejo - no menu, na garrafeira e na decoração.

Já o Bar Alentejano, em Montemor-o-novo, não é bar mas é, definitivamente, alentejano. Fora isso, poderia entrar no clube do anterior.

Se uma carta de vinhos fosse lista de Natal, a minha teria Altas quintas e Olhos de mocho para o desafio, um Vila dos Gamas aragonês para não ir a mais lado nenhum e um trincadeira ACB para fechar a conta. O resto é parra...
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26 outubro 2007 

(...)

 

Postais ilustrados com limão (update)

 

Kitschnet gothic (revistas de postas)

«quero desperdiçar a minha vida toda contigo»
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Páginas, tantas (das séries descubra as diferenças e "desculpe, posso roubar-lhe uma imagem?")

Oslo, Vigeland Park
© Berra-boi

Praga
© Bandeira ao vento
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25 outubro 2007 

Era para pôr na cabine do TIR, entre a Miss Setembro e a Nossa Senhora (Arte, parte 2)

«Camionista norte-americano acusado de roubar quadro de Goya».

 

A soma de todas as filhas-da-putice (Arte, parte 1)

«"Artist" starves a dog to death as a work of art».

 

O relato ao lado

Há algo de alucinogénio em ver uma corrida de Fórmula 1 na TV enquanto se ouve o relato de um jogo de futebol na telefonia do lado direito e banda-sonora electro-rock na telefonia do lado esquerdo. Torna tudo mais emocionante.

 

Heima, sweet heima

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Portugália

«(...) os portugueses são os menos cívicos e apenas ultrapassados por mexicanos e franceses, ocupando também a terceira posição entre os povos que acham legítimo receber apoios estatais indevidos, adquirir bens roubados ou aceitar luvas no exercício das suas funções.»

 

Breviário de sons: musica para el Che

Hasta siempre comandante! Tributo a Che Guevara

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Lisboa, capital

Hoje, Putin. Amanhã, Schwarzenegger. Haverá por aqui um padrão?

 

Em breve...

...postais da Costa Rica em formato super blog limão!

 

I'm ready for my close up, Mr. Markl

E como quem não quer a coisa, dei por mim a fazer um cameo. E de repente, nasceu Dunga! E Dunga disse: «óxenti, 'tão fálando do vosso singuéu ná rádxiu!». Diz que estreia em breve, num blog perto daqui.

23 outubro 2007 

A família Addams: the next generation (da série "desculpe, posso roubar-lhe uma imagem?")

The new Addams family?
@ Attu world
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Hollywoodland contra o mundo real

Não deixa de ser curiosa a rapidez com que o presidente dos EUA assinou uma declaração de emergência por causa dos incêndios na Califórnia. Pelos vistos, Hollywood vale mais do que o Mississippi inteiro...

 

Subitamente, na tarde passada

E de repente, a solo. E de repente, tudo novo! Duas estreias no mesmo dia é stress a mais para a minha camionete!

22 outubro 2007 

iGo (ouvido à saída)

«Como diz a Toyota... AyGo!»
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Breviário de fitas: born in the USA

Sicko, Michael Moore

«An educated, healthy and confident nation is harder to govern.»

Chocante. Tocante. Delirante. É o mínimo que se pode dizer do novo manifesto de Michael Moore. É que, por entre toda a demagogia e maquiavelismo, sobra um facto absolutmente avassalador: o país dito mais poderoso do mundo é também o que trata pior os seus cidadãos. Mas o que choca mais neste documentário não é o flagrante desrespeito pelas pessoas, nem a leviandade entre governantes e lóbis, nem sequer a comparação com os sistemas de saúde canadiano, inglês, francês e até cubano! O que mais espanta é a facilidade com que um país inteiro é formatado, induzido em erro, calado. O que mais espanta é a forma como tudo é tão ridículo e tão mesquinho e tão desumano que só rindo é que se consegue levar a sério.
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21 outubro 2007 

Angels over Brooklyn (da série "desculpe, posso roubar-lhe uma imagem?")


@ Fresh pics
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20 outubro 2007 

Breviário de fitas: a vingadora

The brave one, Neil Jordan

«I always believed that fear belonged to other people. Weaker people. It never touched me. And then it did. And when it touches you, you know... that it's been there all along. Waiting beneath the surfaces of everything you loved.»

Três décadas depois, Jodie Foster regressa à Nova Iorque de Taxi Driver. Mas esta Nova Iorque de hoje não é só a metrópole violenta de Martin Scorsese. É também a cidade claustrofóbica e solitária de David Fincher. É a cidade ferida e assustada de Spike Lee. E é agora a cidade aterrorizada, onde o medo caminha de mãos dadas com a sede de justiça, a cidade em alerta de Neil Jordan. A cidade de Jodie Foster. Porque apesar da superior realização de Jordan e da interpretação notável de Terrence Howard, The brave one é só Jodie Foster. E apesar da dúbia mensagem - entre a chamada de atenção e a glorificação de uma certa justiça em self-service - e do final manhoso (e da absurda tradução portuguesa do título), The brave one é um dos mais intensos momentos de Foster.
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19 outubro 2007 

Complete and utter failure

«If you think of the American economy as a portfolio, then Bush has been a complete and utter failure as a portfolio manager».

 

«What's the matter with you. Is this how you turned out?»

«Francis Ford Coppola disses Robert De Niro, Jack Nicholson and Al Pacino in a surprising critique of three of America's greatest actors.

No slouch himself, Coppola directed Pacino in "The Godfather" and Pacino and De Niro in "Godfather II," and was uncredited when directing Nicholson in the Roger Corman horror flick "The Terror."

But in the new GQ magazine, Coppola reveals that he's disappointed in the three as they've gotten older — and richer.

"I met both Pacino and De Niro when they were really on the come," Coppola tells GQ's Nate Penn. "They were young and insecure. Now Pacino is very rich, maybe because he never spends any money; he just puts it in his mattress. De Niro was deeply inspired by (Coppola's studio American) Zoetrope and created an empire and is wealthy and powerful.

"Nicholson was — when I met him and worked with him — he was always kind of a joker. He's got a little bit of a mean streak. He's intelligent, always wired in with the big guys and the big bosses of the studios.

"I don't know what any of them want anymore. I don't know that they want the same things. Pacino always wanted to do theater ... (He) will say, 'Oh, I was raised next to a furnace in New York, and I'm never going to go to L.A.,' but they all live off the fat of the land."

(...

 

Goonies, o regresso?

«Sean Astin says he’s “almost certain” Warners will make a sequel to “The Goonies”.»

 

Ólarilolela (revista de postas)

«The most beautiful words in the world are

La la la
Na na na
Wow o wow o wo
Ohh ohh ohh
Ye ye ye ye

Why use other words for a song?»


(@ Labeleh)
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Uma literatura inconveniente?

É bom voltar a ver a ficção-científica de volta às páginas centrais. Bem visto, sr. editor!

 

Cuando todo sabe a recuerdo...





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18 outubro 2007 

From her to eternity

Deborah Kerr, 1921 - 2007

 

Estreias

Entre uma Jodie Foster vingadora, uma Katherine Heigl em formato next-big-thing e Ludivine Sagnier e Chiara Mastrianni a dar-nos cantigas... como é que um homem se há-de conseguir decidir?

 

Das leituras

De Neil Gaiman a Hugh Laurie vai a distância de um acaso.

 

Colbert '08

 

DocLisboa (descubra as diferenças)

Sicko, Michael Moore Manufacturing dissent: uncovering Michael Moore, Debbie Melnick & Rick Caine

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Never, never, neverwhere

«(...) the director of Neverwhere will be David Slade, who made the excellent Sundance sensation Hard Candy and the upcoming vampire pic 30 Days of Night. (...) Gaiman will do a rewrite of his earlier draft, which is based on a 1996 mini-series he wrote for the BBC. He also wrote a very popular novelization of the series in 1997, and since then, there has also been a Vertigo comic book and a stage production.»

 

Breviário de leituras: Neil Gaiman's Neverwhere

Neil Gaiman's Neverwhere, Mike Carey & Glenn Fabry

«I was asked in an interview recently what I thought of the Constantine movie, and I said that it was very enjoyable so long as you didn't go into it expecting "the film of the book". What that glib comment conceals is the extent - the enormous extent - to which any adaptation splits itself off from its source and becomes its own journey: its own answer to a set of questions that only formulate themselves as you set to work. Peter Jackson's Lord of the Rings, Ridley Scott's Bladerunner, Brecht and Weil's Threepenny Opera, the stage versions of The Producers and His Dark Materials, they're all jazz riffs on their wonderful originals rather than straight translations. Because straight translations from one medium into another is both impossible and undesirable.»
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17 outubro 2007 

Música de elevador (ouvido no elevador do ofício)

Ela entra apressada no elevador, carrega distraída no botão, pára subitamente com um olhar preocupado, olha para mim pensativa, olha para o botão como que à procura e diz, assertiva:
«Ah, quero ir para o quarto»...
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Breviário de leituras: Neverwhere - na terra do nada

Neverwhere - na terra do nada, Neil Gaiman

«Há centenas de pessoas nesta outra Londres. Talvez milhares. Pessoas que provêm daqui, ou pessoas que caíram através de fendas. Vagueio por aqui com uma rapariga chamada Door, juntamente com o seu guarda-costas e um grão-vizir psicótico. Na noite passada dormimos num pequeno túnel que, segundo a Door, era outrora uma das secções do esgoto da Regência. O guarda-costas encontrava-se desperto quando adormeci, e continuava ainda desperto quando me acordaram. Creio que ela nunca dorme. O nosso pequeno almoço consistiu num grande naco de bolo de fruta que o marquês levava no bolso. Porque razão alguém guardaria um enorme naco de bolo de fruta no bolso?»
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O supermen

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16 outubro 2007 

Um poeminha para Adriano

PENSAMENTO

Meu pensamento
partiu no vento
podem prendê-lo
matá-lo não

Meu pensamento
quebrou amarras
partiu no vento
deixou guitarras
meu pensamento
por onde passa
estátua de vento
em cada praça

Meu pensamento
partiu no vento
podem prendê-lo
matá-lo não

Foi à conquista
de um novo mundo
foi vagabundo
contrabandista
foi marinheiro
maltês ganhão
foi prisioneiro
mas servo não

Meu pensamento
partiu no vento
podem prendê-lo
matá-lo não

E os reis mandaram
fazer muralhas
tecer as malhas
de negras leis
homens morreram
estátuas ao vento
por ti morreram
meu pensamento


(Manuel Alegre)
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15 outubro 2007 

Breviário de sons: historias de nadie

Malpaís, Uno

«Entonces fue que fui
De nuevo un guila, correteando
En los potreros,
Loco y descamisado me perdí
En el verano de caminos polvorientos...
Se que talvez ya no recordaras
Los malinches floridos, aquel fuego
Se que a veces miro para atrás
Pero es para saber de donde vengo.»


Malpaís, 2 (Historias de nadie)

«Allá por el aromal
se van perdiendo los sueños.
Allá lejos y jamás,
parece que llegaremos.
Guanacaste ya no está.
Ya no me lo canta el viento.
Es que tengo que buscar
más al norte del recuerdo.»

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Chegar de férias e descobrir...

...o Boss e a Montreal street band juntos e ao vivo:



Dantes, havia coisas que só mesmo lá estando. Hoje, há o YouTube...
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Chegar de férias...

... sentar no sofá, dar as boas vindas a Dexter, receber uma dose de Weeds e conhecer novos Heroes. Diz que às vezes sabe bem voltar de férias.

14 outubro 2007 

Breviário de fitas: a noite da vingança

Julgamento, Leonel Vieira

«Talvez esteja na hora de acordar o passado.»

Apesar da semelhança da premissa, nem Júlio César é Sigourney Weaver, nem Carlos Santos é Ben Kingsley, nem Leonel Vieira é Roman Polanski. Apesar das semelhanças, Julgamento não é Death and the maiden, nem são as mesmas as memórias que aqui se baloiçam entre a justiça e a vingança. Este é um filme português, com certeza, com todos os defeitos do cinema português (a falta de ritmo, a fraca direcção de actores, a pobre visão cinematográfica...) e algumas virtudes adicionais (a fotografia e a caracterização dos momentos de flashback, a frieza dos retratos, o genérico...). Produto assumidamente comercial, não é mais nem menos do que aquilo que pretende ser: um drama sobre as memórias de um tempo que ainda não foi assim há tanto tempo. Fica o registo do último trabalho de Henrique Viana e a certeza de que Júlio César ainda vai a tempo de se tornar um grande actor.
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Breviário de fitas: sessão dupla, parte 2

O reino, Peter Berg

«Which side do you think Allah's on?»

Dois pontos chegam para fazer deste um caso raro. Um genérico brilhante que resume a História que foi ficando esquecida nas histórias que certas potências vão escrevendo. E uma boa dose de imparcialidade - não completa, mas ainda assim maior do que o habitual no cinema made in USA. De resto, um empolgante filme de acção com alguma perspectiva e uma mensagem simples: at the end of the day, somos todos iguais.
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Breviário de fitas: sessão dupla, parte 1

Ultimato, Paul Greengrass

«This is where it started for me. This is where it ends.»

Curto, claro e conciso. Se as regras do jornalismo se aplicassem ao cinema, o capítulo final da trilogia de Jason Bourne seria a notícia perfeita. Não sendo esse o caso, o que fica é um filme de acção inteligente, pujante, cuidado, atento aos pormenores e absolutamente estonteante.
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13 outubro 2007 

Pura vida (notas de viagem) [work in progress]

A viagem para a Costa Rica não se faz mal. Mas talvez se fizesse bem melhor se não fosse pela Iberia: a companhia espanhola tem o pior serviço, a pior comida, a maior falta de educação e civismo e as hospedeiras mais feias de toda a história da aviação mundial!

San Jose de Costa Rica é uma capital feia, mas cheia de vida. As ruas não têm nome: tirando a Avenida Central, todas as outras são numeradas e as ruas entre elas são uma incógnita.

Apesar de ser um país democraticamente estável e ecologicamente atento e de nem sequer ter um exército, ainda se encontram velhas palavras de ordem escritas pelos muros da capital. A mais marcante: «MAS POESIA. MENOS POLICIA.»

No meio de uma selva saída dos melhores filmes, Tortuguero é um género de paraíso na costa caribeña da Costa Rica. Para lá do calor abrasador e das melgas, há toda um manual vivo de ciências da natureza de um lado e outro da estreita península. Boas vistas e boa comida tornam o clima mais ameno.

Poucas imagens serão mais comoventes e reveladoras do que a de uma tartaruga com várias dezenas de anos, metro e meio e mais de cem quilos a pôr, pausadamente, dezenas de ovos, a tapá-los cuidadosamente no enorme ninho de areia e a voltar ao mar decidida, mas com a calma que o peso e a idade lhe exigem. Não é como ver uma cadela dar à luz uma ninhada de cachorros: é ver um dinossáurio prolongar a espécie sem olhar para trás, sabendo que sobreviveu a tudo, mas que dificilmente sobreviverá ao Homem.

E do outro lado, há macacos uivadores no topo das árvores, há preguiças a dormir, há crocodilos à espreita e um caimão mesmo à beirinha da água, há iguanas e lagartos de todas as cores, há lontras a caçar e manatins escondidos, há tucanos e anhingas e jacanas e tantas aves e não sei quantas borboletas e rãs impossíveis de contar, há um "Jesus Christ lizard" e um "Poison dart frog" e uma "Blue morpho", há animais a mais para caberem na memória e no cartão da máquina fotográfica...

Diz que os melhores restaurantes de Tortuguero são o Miss Miriam's e o Miss Junie's. Mas onde se come melhor é na Dorlings Bakery, na rua principal da aldeia - na única rua da aldeia...

O aeroporto de Tortuguero é o mais pequeno do mundo (um balcão, duas mesas, seis cadeiras e uma casa-de-banho) e parece saído de um filme de aventuras. O aeroporto abriu para o nosso vôo e quando o nosso pequeno autocarro com asas se fez ao ar, o aeroporto fechou.

Na Costa Rica só há duas estações: Verão e Verão com chuva.

Na estrada, são muitas as mensagens religiosas («Dios bendiga tu camino» é a mais comum). A caminho de La Fortuna há um lodge cristão e um resort israelita. À entrada da vila fica o Jehova Nissi Hostel.

Em todo o mundo, há Hard-Rock Cafés. Em La Fortuna, à sombra do vulcão Arenal, existe o Lava Rocks Café. E uma 'soda' chamada Chelas Bar.

O espanhol da Costa Rica perdeu os R's, vítima do excesso de americanos: o inglês é praticamente a segunda língua do país.

A viagem entre Arenal e Monteverde é belíssima mas uma aventura digna de Bruce Chatwin no Paris-Dakar: depois de 100 quilómetros de curvas em alcatrão esburacado, há mais 40 quilómetros de terra, lama, rochas e calhaus.

(...)

A via Panamericana é a única auto-estrada do país. São centenas de quilómetros de norte a sul da Costa Rica, com uma via para cada lado, muitos buracos e sem berma. Por cá, não seria sequer uma estrada nacional. Lá, é a melhor estrada, o percurso mais concorrido e também o mais lento e esfarrapado. Fazer 200 quilómetros na Panamericana é uma espécie de longo e fastidioso desafio.

A Costa Rica é um festim de personagens interessantes: Kurt, o alemão mais simpático de San Jose; Darryl, o canadiano biólogo, guia apaixonado e anfitrião competente em Tortuguero; o casal do Montana e as duas filhas, a meio de quatro meses de férias, que começaram com um mês a aprender espanhol; Roberto, o sueco filho de italianos que viaja pelo mundo de mochila às costas e câmara em punho; Jaime e Hugo, os dois irmãos, norte-americanos de Puerto Rico, aventureiros e com vistas largas (ao contrário da trupe de quatro norte-americanos muito "d'oh", saídinha de uma comédia teen de Hollywood); Adrian Mendez, guia, fotógrafo, artista e o homem mais contente do mundo ao descobrir um quetzal em Monteverde; Zack e Yuki, os estudantes (ele norte-americano, ela japonesa) que tomam conta do jardim de Borboletas; Beth, a sorridente norte-americana que trocou os States pela costa de Guanacaste e entrou no espírito das gentes (trabalha só às tardes e devagarinho)... Ah: para lá, a Cláudia Vieira; para cá, Gonçalo M. Tavares.

A viagem de regresso não se faz muito mal, porque se faz de noite. Mas decerto teria sido bem melhor se não fosse pela Iberia, eleita pela unanimidade dos passageiros com escala em Madrid como a pior companhia aérea de toda a história da aviação mundial. E Barajas, aeroporto a evitar para quem tiver de fazer escala em Madrid. A não ser quem goste de correr de um terminal para o outro e de passar duas vezes pelo controlo de bagagem e de quase perder aviões e de ficar horas à espera do vôo, perante o olhar arrogante e o sorriso pedante dos senhores da Iberia.
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12 outubro 2007 

A pot of gold

Quanto valerá o arco-íris?

 

Sopram Nobeis de mudança?

Avanços científicos na área da informática. Escritos de uma autora fetiche da comunidade lésbica. Os estudos e as estrelas do combate ao aquecimento global... Diz que o Nobel entrou no século XXI.

 

Buuurardo

Confirma-se: o "museu", tal como o homem, é só garganta.

 

Só agora me apercebi

Se tivesse uma carreira, faria agora dez anos...

 

Sexta-feira à tarde, na TV

Fado, futebol e Fátima: o jogo da selecção sub-21 na RTP1; a inauguração na nova igreja do santuário de Fátima na TVI; a apresentação do orçamento de estado na SIC Notícias...

 

Desculpe, importa-se de repetir? (ouvido no noticiário)

«O proprietário do animal já foi identificado e encontra-se sob sequestro no canil».
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11 outubro 2007 

«Regresar...

...con los ojos desconocidos,
Desempolvando besos y nostalgia.
Regresar cuando todo sabe a recuerdo,
Y a mañana.

Regresar sin bajar en las estaciones,
Juntando atardeceres por el camino.
Cuando el viento nos pone dentro del pecho,
Aroma a flor de naranjo.

Con un sueño escondido en el equipaje
Los zapatos en rumbo y de vez en cuando
Algún licor exótico y subversivo...
De contrabando.

(...
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B.I.

Coisas Breves

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