Breviário de fitas: ensaio sobre o apocalipse
«The only thing more terrifying than blindness is being the only one who can see.»
Talvez não seja um filme tão brilhante ou tão apocalíptico quanto se esperaria, mas se há coisa que ninguém pode dizer deste Ensaio de Fernando Meirelles é que não seja fiel à obra de Saramago. Mesmo que aqui e ali surjam discretas alterações ou um ou outro atalho, a verdade é que a versão filmada é tão fiel à matéria prima que acaba por perder o factor choque. De fora, para lá do atalho final, só mesmo as considerações sociais e filosóficas que o narrador do livro vai tecendo ao longo das páginas e que não cabem nas imagens de um filme. Talvez por isso, e por algum excesso de zelo, esta Cegueira - que é soberba obra escrita - não passe de um interessante ensaio no qual só com alguma boa vontade (sobretudo de quem não leu o livro) se pode encontrar a alegoria de Saramago e só quem não viu outros fins-do-mundo cinematográficos pode descortinar o apocalipse. Vale, ainda assim, a fotografia, vale a banda-sonora, vale a coragem. E vale o orgulho de ler, num genérico made in Hollywood, as palavras «based on the novel by José Saramago».
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