Breviário de fitas: o código do filme do livro que parece um filme
Como seria de esperar, o filme do livro que se lê como se se estivesse a ver um filme não é tão bom como o livro que foi escrito como se fosse um filme. Não que o filme do livro que nasceu para ser filme seja um mau filme, que não é. Não que o livro que parece um filme seja uma obra literária tão genial quanto intransponível para o cinema, que não é. Mas a verdade é que o filme do livro que é quase um filme não consegue captar tudo aquilo que o livro quase filme transmite - não se vêem as motivações nem as justificações que se liam, não se crê em Leonardo nem no Graal com a mesma intensidade, não se sentem as surpresas nem os sobressaltos que se descobriam com o devorar das palavras, das páginas, dos capítulos feitos para serem devorados como se devoram as pipocas de um filme emocionante.
O que o livro que é como um filme tem que o filme do livro que queria ser um filme não tem é vontade de desbravar. Limita-se a querer mostrar o que foi antes desbravado. E assim, onde antes havia suspense há agora previsibilidade, onde havia emotividade há lamechice, onde havia o silêncio de um candeeiro há uma banda-sonora esquecível... O livro quase filme foi alimento para a fome que ele próprio criou. O filme do livro-filme é pura gulodice.
O que o livro que é como um filme tem que o filme do livro que queria ser um filme não tem é vontade de desbravar. Limita-se a querer mostrar o que foi antes desbravado. E assim, onde antes havia suspense há agora previsibilidade, onde havia emotividade há lamechice, onde havia o silêncio de um candeeiro há uma banda-sonora esquecível... O livro quase filme foi alimento para a fome que ele próprio criou. O filme do livro-filme é pura gulodice.
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