Breviário de leituras: Bons augúrios
«Iam eles por volta de Chiswick, quando Aziráfalo remexeu distraidamente nas fitas gravadas que se amontoavam no guarda-luvas.
- O que é um Velvet Underground? - quis ele saber.
- Não ias gostar disso - avisou Crowley.
- Ah, estou a ver - disse o anjo, desinteressadamente - Be-bop.
- Saberás tu, Aziráfalo, que se se pedisse a um milhão de seres humanos que descrevessem a música moderna, provavelmente nem um usaria o termo be-bop? - perguntou Crowley.
- Ah, isto agrada-me mais. Tchaikovsky - pronunciou-se Aziráfalo, abrindo um dos estojos e enfiando a cassete na ranhura do Blaupunkt.
- Também não vais gostar dessa - suspirou Crowley. - Já está no carro há mais de quinze dias.
Uma pesada batida em contrabaixo começou a martelar através do Bentley, enquanto aceleravam para além de Heathrow.
A fronte de Aziráfalo enrugou-se.
- Não estou a reconhecer isto - confessou. - O que é?
- É o "Another One Bites the Dust (Mais Um Que Morde a Poeira)" de Tchaikovsky - disse Crowley, fechando os olhos à passagem por Slough.
Para passar o tempo enquanto atravessavam os Chilterns adormecidos, ouviram igualmente o "We Are the Champions (Somos os Campeões)" de William Byrd e "I Want to Break Free (Quero Libertar-me)" de Beethoven. Mas nenhuma foi tão boa como "Fat-Bottomed Girls (Raparigas de Traseiros Gordos)" de Vaughan Williams.
Diz-se que o Diabo tem as melhores melodias.
Em termos gerais, é verdade. Mas o Céu tem os melhores coreógrafos.»
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