Breviário de leituras: Histórias falsas
«Agravou-se, assim, e muito, com os anos, o ódio ao Mundo manifestado por Metão. Lançador profissional da discórdia, Metão separou casais, acabou com a amizade entre irmãos (e de entre elas a sua com Empédocles) zangou irreversivelmente alguns pais com os seus filhos, alguns filhos com os seus pais; ganhou, em suma, quase um inimigo por cada dia.
Surgiu então a hora em que o homem é chamado à razão. Chegada por mãos desconhecidas, Metão de Agrigento, irmão de Empédocles, lê uma carta onde percebe que Tirceu, o seu velho e fiel amigo, o irá envenenar com vinho nesse mesmo dia.
Há quem diga que a carta foi escrita pelo próprio Tirceu, num último e ambíguo teste à personalidade de Metão.
Terá recordado Metão, pelo choque, a sua vida anterior? Terá sido a última frase da carta anónima que, depois de manifestar a tristeza pela perda do homem que Metão era antes - sensato e equilibrado -, dizia:
"De que honras, de que alturas de felicidade eu caí para andar aqui, sobre a terra, entre os mortais."
Terá sido a recordação de vidas anteriores?
Por dentro, ninguém pode saber o que sucede; mas por fora, no corpo e nos actos, quem viu pode dizer o que viu.
Conta-se, pois, que o final da vida de Metão, foi ao nível do seu início. Numa palavra: com sabedoria.
Recebendo nos seus aposentos Tirceu, Metão aceitou a oferta do vinho como se nada soubesse e, logo depois de beber calmamente o veneno, estendeu-lhe a carta que denunciava o acto de traição, dizendo:
- Se até tu queres a minha morte, então é o momento.
E assim, tranquilo, morreu.»
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