Um dia no clube de saúde
Na passadeira em frente à porta, Arsénio corre depressa. É o centro do seu mundo e das atenções. Arsénio tem o estilo. Tem o caparro. Tem a corrida. Tem o palminho de cara e o corpo a condizer. Arsénio sabe disso. Arsénio sabe que, à sua volta, todas o miram. Arsénio sabe que é bom, que é muito bom. Arsénio sabe disso. Arsénio sabe. O que Arsénio não sabe é correr. O que Arsénio não sabe é que os que o miram não o fazem pelo estilo nem pelo caparro. Fazem-no pela sua passada barulhenta, pelo seu orgulhoso 'thump', pelo seu revelador 'thump', pelo seu desmazelado 'thump'. E assim vai correndo Arsénio. Vaidoso. Alheado.
No fundo do ginásio, um gangue de velhotes monopoliza o espaço. Seis velhotes, sentados nas suas bicicletas. Cada um na sua bicicleta. Exercitam a garganta e o seu poder argumentativo. O treino de hoje? A jornada de ontem na televisão. E os golos e as faltas e as miúdas. E assim se vai treinando o gangue dos velhotes.
Sentado numa das máquinas de pesos, pensativo, Né Pedro não se mexe. Observa. Olha para o rapaz musculado do seu lado a levantar 50 quilos. Observa. Olha para a velhota que deita os bofes de fora nas elípticas. Observa. Olha para o puto que só levanta pesos com um braço enquanto se queixa do outro. Observa. E assim vai passando o tempo de Né Pedro.
Cartolina é a mais rara de todas as ginastas. Jovem, bonita, casada, envergonhada, provocadora - gata escondida de rabo de fora. Cartolina veste uma t-shirt larga para esconder a elegância do corpo e umas calças justas para deixar espreitar a perfeição das suas pernas. E para deixar sonhar... Para elevar o encanto, Cartolina não vai para o ginásio sozinha. Esta semana, acompanha-a Garcia Márquez e os habitantes de Macondo. E assim, primeiro na bicicleta, depois na passadeira, Cartolina vai lendo, devagarinho, passo a passo, página a página. Vai lendo e seduzindo. Indiferente ao 'thump' de Arsénio.
E quando, ao fim de dez minutos, suado e sorridente, Arsénio desce da passadeira, vaidoso, não sabe que os que o miram não sorriem para ele. Riem-se. Dele.
Mas não Né Pedro. Né Pedro não se ri. Observa. Segue o passo certinho de Cartolina e só desvia o olhar para acompanhar a saída altiva de Arsénio ao som das bocas do gangue dos velhotes. Não se ri. Observa. Apenas.
Lá fora, no jardim em frente à janela do clube de saúde, o sol projecta, por entre os arbustros, a sombra de um diabinho a rir.
No fundo do ginásio, um gangue de velhotes monopoliza o espaço. Seis velhotes, sentados nas suas bicicletas. Cada um na sua bicicleta. Exercitam a garganta e o seu poder argumentativo. O treino de hoje? A jornada de ontem na televisão. E os golos e as faltas e as miúdas. E assim se vai treinando o gangue dos velhotes.
Sentado numa das máquinas de pesos, pensativo, Né Pedro não se mexe. Observa. Olha para o rapaz musculado do seu lado a levantar 50 quilos. Observa. Olha para a velhota que deita os bofes de fora nas elípticas. Observa. Olha para o puto que só levanta pesos com um braço enquanto se queixa do outro. Observa. E assim vai passando o tempo de Né Pedro.
Cartolina é a mais rara de todas as ginastas. Jovem, bonita, casada, envergonhada, provocadora - gata escondida de rabo de fora. Cartolina veste uma t-shirt larga para esconder a elegância do corpo e umas calças justas para deixar espreitar a perfeição das suas pernas. E para deixar sonhar... Para elevar o encanto, Cartolina não vai para o ginásio sozinha. Esta semana, acompanha-a Garcia Márquez e os habitantes de Macondo. E assim, primeiro na bicicleta, depois na passadeira, Cartolina vai lendo, devagarinho, passo a passo, página a página. Vai lendo e seduzindo. Indiferente ao 'thump' de Arsénio.
E quando, ao fim de dez minutos, suado e sorridente, Arsénio desce da passadeira, vaidoso, não sabe que os que o miram não sorriem para ele. Riem-se. Dele.
Mas não Né Pedro. Né Pedro não se ri. Observa. Segue o passo certinho de Cartolina e só desvia o olhar para acompanhar a saída altiva de Arsénio ao som das bocas do gangue dos velhotes. Não se ri. Observa. Apenas.
Lá fora, no jardim em frente à janela do clube de saúde, o sol projecta, por entre os arbustros, a sombra de um diabinho a rir.
parece-me a mim que esse diabinho és tu :D
Posted by rita maria josefina | 12:42
achas? mas porquê, porquê, porquê? ;)
Posted by RS | 19:52
aii sei lá..:D ahaha só te digo uma coisa!! lembra-me de eu nunca me inscrever num clube de saúde que tu frequentes! :D
Posted by rita maria josefina | 23:27
tá descansada que eu não revelo as minhas fontes de inspiração. além disso, lá diz o povo, quem conta um conto, acrescenta um ponto... ;)
Posted by RS | 23:36