Coito interrompido
O pessoal tinha chegado cedo. A sala estava composta. A ansiedade era muita. Luzes apagadas, primeiras imagens, primeiros acordes... e o ruído, o raio do ruído. Mas enfim, por entre o inenarrável ruído, o filme lá ia rodando. E por entre o inenarrável ruído, lá ia dando para esbugalhar os olhos perante a Londres negra de Tim Burton. E por entre o inenarrável ruído, lá ia para gostar, e gostar muito, de ouvir Johnny Depp a soar a Bowie. E para gostar da forma como a estória ia ganhando vida por entre as canções. E o ruído, o raio do ruído, o inenarrável ruído. A dar cabo dos nervos a quem já tinha os nervos em franja, mas da ansiedade. E da certeza de estar a ver um dos grandes filmes do ano. Mas o raio do ruído levou a melhor: desculpas pedidas e aceites, projector avariado, projecto adiado, fica para a próxima. 'Tá certo, fica para a próxima. Com ainda mais ansiedade, porque o pouco que se viu, os 15 ou 20 minutos que se viram, já disseram muita coisa... Enfim, já está arranjado, o projector?