Na solidão de um olhar vazio (escritos enjeitados)
E no último local onde esperava ver-te, no último sítio onde imaginava ver-te, lá estavas tu. À distância de duas bancadas, frente a frente, tão próximas mas separadas por um palco, um tão pequeno palco, que, naquele momento, era um mar fundo demais para atravessar. E de repente, enquanto as luzes baixavam, o teu olhar veio assentar no meu. Cruzámos o olhar, sorri-te timidamente e no teu sorriso adivinhei uma resposta. Eras tu. E sim, era eu.
Apagaram-se as luzes, tão serenamente quanto os nossos olhares, ainda colados, me diziam que ali celebrávamos o reencontro, a um palco de distância. E passei o espectáculo com os olhos a deslizar entre os teus e os actores, com o olhar entre o teu sorriso e o palco que nos afastava. E entre cada palavra te olhava, entre cada silêncio te sorria, entre cada luz que se acendia e apagava te dizia "és tu" e sabia que tu me respondias "sou eu".
No último suspiro do actor, acenderan-se as luzes e levantámo-nos como todos se levantam no fim do espectáculo, em ovação - eu do lado de cá, tu do lado de lá - e aplaudimos, com o olhar ofuscado pelas luzes e pela ansiedade. Mas o que aplaudiamos não era o actor, não era a peça. O que aplaudíamos era o momento, era o reencontro, era o estarmos ali, frente a frente, de olhar cruzado, a dizer "até que enfim", a gritar "que saudades", a chorar pelo tempo que tínhamos perdido no tanto tempo em que nos tínhamos perdido, a pedir "lá fora, espera por mim lá fora"...
E à saída, lá fora, esperei por ti. De olhos cansados, ofuscados, abertos à tua procura. E então surgiste, ao cimo da escada. Olhei para ti e cheguei-me à luz, não para te ver, mas para que tu me visses. E foi só enquanto descias a escada que os meus olhos se abriram e perceberam... Foi só enquanto descias a escada que vi... que aquela mulher que descia a escada... aquela que me tinha olhado... não eras tu... Nunca tinhas sido tu. Tinha sido uma sombra de ti. A memória de ti. A ideia de ti. A saudade de ti.
E no último local onde esperava ver-te, no último sítio onde imaginava ver-te, percebi que tinha medo de nunca mais te voltar a ver.
Apagaram-se as luzes, tão serenamente quanto os nossos olhares, ainda colados, me diziam que ali celebrávamos o reencontro, a um palco de distância. E passei o espectáculo com os olhos a deslizar entre os teus e os actores, com o olhar entre o teu sorriso e o palco que nos afastava. E entre cada palavra te olhava, entre cada silêncio te sorria, entre cada luz que se acendia e apagava te dizia "és tu" e sabia que tu me respondias "sou eu".
No último suspiro do actor, acenderan-se as luzes e levantámo-nos como todos se levantam no fim do espectáculo, em ovação - eu do lado de cá, tu do lado de lá - e aplaudimos, com o olhar ofuscado pelas luzes e pela ansiedade. Mas o que aplaudiamos não era o actor, não era a peça. O que aplaudíamos era o momento, era o reencontro, era o estarmos ali, frente a frente, de olhar cruzado, a dizer "até que enfim", a gritar "que saudades", a chorar pelo tempo que tínhamos perdido no tanto tempo em que nos tínhamos perdido, a pedir "lá fora, espera por mim lá fora"...
E à saída, lá fora, esperei por ti. De olhos cansados, ofuscados, abertos à tua procura. E então surgiste, ao cimo da escada. Olhei para ti e cheguei-me à luz, não para te ver, mas para que tu me visses. E foi só enquanto descias a escada que os meus olhos se abriram e perceberam... Foi só enquanto descias a escada que vi... que aquela mulher que descia a escada... aquela que me tinha olhado... não eras tu... Nunca tinhas sido tu. Tinha sido uma sombra de ti. A memória de ti. A ideia de ti. A saudade de ti.
E no último local onde esperava ver-te, no último sítio onde imaginava ver-te, percebi que tinha medo de nunca mais te voltar a ver.
Etiquetas: Escritos enjeitados