Breviário de palcos: o escritor e o irmão do escritor
«O único dever de um contador de histórias é contar uma história.»
Sábado à noite. Sala cheia - mas cheia mesmo, a abarrotar, sem um único lugar vago. Sala calada do princípio ao fim - mas sem um único ruído que não as gargalhadas na altura de rir, os sustos na altura de assustar, os suspiros na altura de tocar. Sala rendida - mas verdadeiramente rendida, desde a primeira fala até à ovação de pé, quase dez minutos de pé, que são pouco pela força brutal, genial, do texto, pela surpresa, tão agradável, das interpretações, pela certeza de uma das mais brilhantes encenações de que há memória na memória recente do nosso teatro.
Se o dever de uma peça de teatro é contar uma história, entreter, The pillowman cumpre o dever e deixa-nos a sonhar por mais, muito mais. Disse-o uma vez, há bem pouco tempo, e não encontro outra forma senão repeti-lo hoje: se o teatro existe, é por momentos assim; é para momentos assim. E é para nos deixar com vontade de ver mais coisas assim, como esta - tão só a mais admirável criação teatral do ano.
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