New York report: breviário de palcos
Nada a ver com Andrew Lloyd Webber e afins, nada a ver com Tarzans e Reis Leões e, apesar do bonecos, nada a ver com os Marretas ou a Rua Sésamo. Avenue Q é um misto de Friends e South Park para trintões e para gente que nunca viu um musical. Avenue Q foi escrito por dois moços saídos da universidade, sem dinheiro nem emprego, que, provavelmente, gostam mais do Cocas do que do Cats e que, hoje, são a parelha mais requisitada da Broadway. Avenue Q passa a ferro tudo e todos e põe toda a gente a cantar "It sucks to be me" e "Everyone's a little bit racist" e "The Internet is for porn". Durante dias e dias... Ponho a mão no fogo: provavelmente, o melhor musical da Broadway actualmente em cena.
Lá está: o factor "fã-número-duzentos-e-setenta-e-oito-em-pulgas-com-a-expectativa-demasiado-alta" tem sempre tendência para estragar a coisa. Sim senhor, lá estão os punchlines dos Monty Python e a voz do John Cleese e o Always look on the bright side of life e os bonecos do Flying Circus e a rama do Holy Grail... Mas de resto, a coisa soa a show de casino ao jeito de cabaré com revista à portuguesa à mistura. Ele é meninas mal despidas, muita luz, muita cor, muito trapo, muito néon e, lá pelo meio, qualquer coisa de Monty Python. Vale a pena, sim senhor, que vale. É divertido, sim senhor, que é. Mas ou há ali qualquer coisa a mais (talvez os anos a pesar nas costas de Eric Idle) ou há ali qualquer coisa a menos (talvez aquele humor genial, cáustico e hilariante de outros tempos). É uma pena. Um fã quer gostar, quer mesmo gostar. Mas sai de lá triste...
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