O fantasma de Almodôvar assombrou o vôo de Madrid para Maiorca: duas horas de atraso, as hospedeiras mais feias do mundo, uma tripulação da concorrência entre os passageiros e uma viagem sem comida nem «plan de asentos».
Em Maiorca, a paciência não é uma virtude, é uma prática comum (um alentejano sentir-se-ia apressado em Maiorca).
Na rádio, um dos hits correntes é o hino oficioso da ilha: Patience, dos Take That. Esse, e o Umbrella de Rihanna (sem Jay-Z). No carro, ouve-se a Radio Flaixbac, a Radiomania, a Alcúdia FM e a concorrente Radio Balear (os estúdios destas últimas ficam bem no centro da belíssima vila de Alcúdia, uma de cada lado da igreja).
A parte sul de Maiorca é a mais concorrida, mas a mais desinteressante. O melhor da ilha está a norte, para lá da Tramontana.
Fornalutx é a aldeia mais bonita de Espanha. É o que vem nos livros. Mas cinco noites nesta aldeia perdida no meio da serra chegam para convencer que o rótulo não é exagero.
É em Fornatlutx que fica o melhor restaurante da ilha, o Ca' Antuna. Curiosamente, é também lá que fica o mais estranho restaurante da ilha, o Es Tambor Pages - um género de Fawlty Towers em versão quixotesca: o cozinheiro é um hippie reformado que não usa o braço esquerdo e que só consegue trabalhar a ouvir rock n'roll; e a cave é uma enorme sala vazia, provável cenário de um qualquer filme de terror maiorquino.
Ali perto fica a praia de Sa Calobra - a cobra. Percebe-se o nome: é preciso mais de uma hora para descer poucos quilómetros de curvas e contra-curvas e contra-contra-curvas. Mas uma vez lá em baixo, compreende-se o fascínio pela descida: a praia de Torrent de Pareis é uma das mais belas criações da natureza.
A vila de Deia não tem centro. Tem uma igreja e uma rua com restaurantes e lojas à beira da estrada. Mas ainda assim, vale a passagem. Uns quilómetros mais à frente fica Valdemossa, onde Chopin e George Sand passaram o seu Inverno em Maiorca. Mas os turistas vão lá é para visitar o restaurante de Michael Douglas.
Já Andratx (que também não tem centro) é a cidade mais feia da ilha. Seguida de perto por Pollença e Ses Salines.
Conduz-se muito mal em Maiorca. A polícia dá o exemplo: conduz ainda pior.
À beira da estrada, uma tabuleta: Son Amar - restaurante espectaculo.
Diz que a água de Font Sorda é «son cocó».
A gastronomia típica de Maiorca anda entre o pa amb oli, a ensaimada e as cocas de patata - o que quer que isso seja...
É muito difícil comer fora de Palma: ou há comida mas não há onde comer, ou há onde comer mas não há comida, ou há de tudo mas "só daqui a uma hora".
No centro de Palma, mesmo em frente ao Ajuntament, fica a melhor Dunkin' Donuts do mundo!
À saída de Palma há uma pequena cidade desportiva: tem um estádio de futebol, um complexo de piscinas, um pavilhão multidesportivo, um centro hípico e... uma penitenciária.
O maiorquino é uma mistura de catalão com castelhano, alemão, italiano e até português. E com um alto sentido de humor: azeite diz-se «oil»; óleo diz-se «aceite».
Em Maiorca bebe-se muito café. Aliás, é incrível como numa ilha tão pequena há tantas marcas diferentes de café (contámos pelo menos oito).
Até nos gelados a concorrência está ao rubro: enquanto a Eva Longoria nos vende Frigos, a Elsa Pataky impinge-nos Nestlés.
Manacor é a Paços de Ferreira lá do sítio: é a capital do móvel, mas com dinossaurios.
As Cuevas del Drach são grutas perfeitamente alienígenas e apaixonantes. Já o concerto a que, uma vez lá dentro, nos obrigam a assistir é a coisa mais inexplicavelmente idiota de que alguma vez algum agente turístico se possa ter lembrado.
E na última noite em Fornalutx, soa o alarme de incêndio! Começa a tornar-se
um hábito...
Atenção: o que se come em Maiorca, fica em Maiorca.
No regresso, os computadores em baixo no aeroporto de Maiorca, o pior empregado de balcão do mundo e a companhia aérea mais simpática da Europa, a Air Nostrum. Basta isto: a sobremesa foi um gelado Haagen-dasz!
Ah, mas... não há nada melhor que um passeio de segway à beira-mar...
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