Isto de se ter e deixar de ter tem o que se lhe diga. Confesse-se: fui um
Galarza, ainda hoje o sou. Mas o tempo gosta de varrer para baixo do tapete a poeira dos dias e deixar-se perder. Ou fazer-nos perdê-lo, o tempo.
Depois de quase três anos a galarzar por aí, aconteceu que a tertúlia onde jorrei quilómetros de mim, onde vivi as vidas dos meus amigos/irmãos e com eles (e os outros) partilhei os meus passos, se deu ares de fartura. Cedeu ao cansaço, à rotina, à raiva, à zanga. E desfaleceu entre faltas de vontade e faltas de confiança.
O dia em que nasceu a primavera de dois-mil-e-seis marcou o fim de uma era. Pelo menos, para mim. De tal forma que, nos últimos meses, mal tenho tido vontade - ou, tão simplesmente, coragem - de voltar a este bairro virtual, cujas ruas calcorreei durante anos, cujos vizinhos aprendi a respeitar entre postas e palavras e partilhas.
Mas isto de se ter e deixar de ter tem muito que se lhe diga. Porque depois de, durante anos, ter tido por aqui um poiso onde encostar a cabeça, um sofá onde confessar a vida, uma página em branco para encher e preencher e deixar crescer... dei por mim sem espaço, sem um lugar que sentisse meu, a quem dar de comer as palavras e os escritos que tinha, fugidios, na ponta dos dedos, por baixo da língua, na vontade de escrever, escrever, escrever...
Eis-me, assim, aqui. É verdade que, no entretanto, deram-me abrigo
noutros albergues (que continuarei a frequentar sem pedir licença, como se frequenta a casa dos amigos mais próximos). Mas esta será, de hoje em diante, a minha casa. O meu poiso. O meu sofá. A minha página em branco.
Eis-me aqui. E vós, sois todos bem-vindos.