29 maio 2006 

Gin soaked boy, parte 2

Porque às vezes é preciso dar uma lavagem ao ego: eis eu com ar profissional e trabalhador! Não é tanto pela foto, é mesmo pelas palavras que dá gosto ler e reler... Pronto, prometo que não volta a acontecer.

27 maio 2006 

Breviário de sons: The eraser

The eraser, Thom Yorke

Já se ouve qualquer coisa. Já se vê algo. Já se escreve sobre o álbum de Thom Yorke. Pelo cheiro, pela cor, pelo som, pelo ambiente, pelos cenários apocalípticos, pelos versos insondáveis, pela fome que se tem, pelo que diz quem já ouviu, a segunda semana de Julho vai custar muito a chegar...

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A propósito dos condutores que conduzem com o rádio a altos berros e as janelas abertas para toda a gente ouvir

As pessoas com problemas auditivos não deviam ser impedidas de conduzir?

 

A grande revelação da humanidade

O Jornal da Noite da SIC fez hoje a grande revelação que a humanidade esperava! A resposta à secular dúvida "quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?" é... o ovo!

Na próxima semana, o Jornal da Noite da SIC vai responder à outra grande questão da humanidade: "porque é que a galinha atravessa a estrada?"

 

Breviário de sons: Gin soaked boy

Gin soaked boy, The Divine Comedy

Quinta-feira dei o meu primeiro autógrafo!

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Fazer rádio num festival é:

- Correr o risco de perder a voz ao fim de duas horas (e antes ainda de começar a noite);
- Entrar em directo e logo cair ou ter o pio cortado de dois em dois minutos;
- Arriscar-me a ter que apagar os fogos dos outros (e com isso, perder o lugar);
- Ver sobressair o melhor e o pior de alguns colegas;
- Cruzar-me com amigos e ex-colegas que já só se vêem de ano a ano;
- Perder as costas da cadeira duas vezes no mesmo dia (e sentir que as mesmas cadeiras já foram mais largas);
- Ficar cheio de fome e não ter tempo, espaço ou vagar para ir comer;
- Morrer de stress a meio do primeiro dia;
- Derreter de calor no estúdio-móvel (mesmo com o ar condicionado ligado);
- Sentir-me num aquário quando, chegando a noite, as luzes do estúdio-móvel se ligam e dezenas de pessoas ficam a olhar para nós como se fôssemos animais no jardim zoológico;
- Passar os dias a dar estaladas na própria cara, pescoço e braços (para matar mais um filho da mãe de um mosquito);
- Não conseguir ter uma conversa de jeito a partir de uma certa hora;
- Não ver um único concerto;
- Ver o olhar esbulhado, os sorrisos e os agradecimentos comovidos dos fãs de uma banda quando lhes dizemos "parabéns, vão conhecer a vossa banda preferida";
- Perder o olhar por entre tantas boas-vistas que a Primavera traz;
- Dar oito autógrafos e ficar sem saber o que dizer aos "fãs" que não sabia que tinha (e recordar o olhar tão sorridente da Marta, aquela última fã, quando lhe devolvi a t-shirt rabiscada).
(- Acabar os dias em casa de velhos amigos a beber chá de iogurte de framboesa e cheesecake de morango...)

25 maio 2006 

Aos seus lugares!

O duelo vai começar. De um lado, o mais antigo festival do pré-Verão lisboeta, super-alcatroado e à beira-rio Trancão. Do outro, o mais mediático festival do mundo, com ares de instituição relvada e à beira-Chelas (de rio, só o nome).

De um lado, o rock vestido de negro e cinza, o rock esganiçado, o rock que já foi mais alternativo, o hip-hop da urbe, o reggae para o relax e alguns nomes para o futuro. Do outro, a pop certinha que vende novelas, a pop sensual que vende posters, o rock lavadinho que vende camisolas, o rock velhinho que em tempos vendeu discos, o samba-pop que vende cervejas e a aposta no passado que ainda vende.

De um lado, Moonspell e Alice In Chains. Do outro, D'Zrt e Guns N'Roses.
De um lado, Franz Ferdinand e dEUS. Do outro, Red Hot Chili Peppers e 2 Many DJs.
De um lado, a trabalhar. Do outro, a barriga da Shakira...

Venha o duelo, que o que faz falta é desviar a malta.

 

Breviário de leituras: Memória das minhas putas tristes

Memória das minhas putas tristes, Gabriel Garcia Márquez

«Na noite do seu aniversário, cantei a Delgadina a canção completa e beijei-a por todo o corpo até ficar sem fôlego; a espinha dorsal, vértebra por vértebra, até às nádegas lânguidas, a zona lunar, a do seu coração inesgotável. À medida que a beijava aumentava o calor do seu corpo e exalava uma fragância rústica. Ela respondeu-me com vibrações novas em cada polegada da sua pele, e em cada uma encontrei um calor diferente, um sabor próprio, um gemido novo, e toda ela ressoou por dentro com um harpejo e os seus bicos dos seios abriram-se em flor sem lhes tocar. Começava a adormecer pela madrugada quando senti uma espécie de rumor de multidões no mar e um pânico das árvores que me atravessaram o coração. Então fui à casa de banho e escrevi no espelho: Delgadina da minha vida, chegaram as brisas do Natal.»

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Espelho meu, espelho meu

Monica Bellucci Ben Affleck Rupert Everett

De acordo com as contas do MyHeritage, sou 61% parecido com Monica Bellucci, 56% parecido com Ben Affleck e 50% parecido com Ruper Everett. Não sei porquê, mas quando me olho ao espelho de manhã não consigo ver nenhum deles...

24 maio 2006 

No avião como na vida

A turbulência começa quando chega a comida.

 

As bolas de Berlim (notas de viagem)

À chegada a Berlim, nada nos diz que saímos de Portugal: os autocarros são amarelos e iguais aos da Carris; os táxis são bejes como os portugueses; e o motorista do transfer era... português!

A primeira refeição na Alemanha (um almoço tardio) foi num acolhedor restaurante/bar que parecia um típico pub londrino cheio de fotos de Berlim nos anos 30. Na ementa, "Hühnerfrikasee mit spargel und champignons im reisrand", traduzido por baixo como "Chicken with asparagus and mushrooms in the edge of rice" - qualquer coisa como "Frango com espargos e cogumelos na ponta do arroz". Comemos bife.

Das outras refeições: "Bananen curry" num restaurante indiano na zona gay de Berlim ("indi-gay"?); uma sobremesa deliciosa mas de nome impronunciável na esplanada de um restaurante italiano enquanto chovia a cântaros (e atendidos por uma empregada e uma tradutora); uma salsicha de 20 centímetros e um pão de antes-d'ontem num quiosque no páteo de um antigo armazém transformado em discoteca/sala de concertos/eventos artísticos, atendidos por um alemão com um blusão da selecção portuguesa.

Na capital alemã respira-se futebol: junto às Portas de Bradenburgo, onde há 20 anos estava o muro de Berlim, está hoje uma gigantesca bola de futebol.

Não há bolas de Berlim em Berlim. Mas há um excelente Apflestrüdel...

Berlim é a capital da música kitsch. Os Abba e os filhos da Eurovisão continuam nos tops, ao lado de coisas como Banaroo, Hot Banditoz, Brunner & Brunner, Mickael Turtle, Vanilla Ninja e "Die kleine kuh von Malibu". E, claro, David Hasslehof.

A televisão é tão má como a portuguesa. Só que em alemão.

PS: de passagem por Zurique, paragem para almoço num simpático café/snack-bar com ar de tasca lavadinha em Augustiner-Grässe (uma rua saída de um conto de fadas). Na mesa, um saleiro de marca: Peugeot! Nas ruas, entre lojas de chocolates e montras de relógios, cartazes anunciam a estreia de um novo espectáculo: "Heidi - das Musical". No aeroporto, ninguém prima pela simpatia. Mas os aviões saem à hora.
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20 maio 2006 

Na véspera do ir...

 

Ou sopram ventos de mudança ou a Eurovisão tem sentido de humor

Aleluias: o hard-rock mascarado bateu o euro-kitsch-pop de lantejoulas!

 

205 anos depois...

...ainda há um pedaço de Portugal a sul de Badajoz.

 

Há blogues que dão em livro...

...e há livros que dão em blogue.

 

Breviário de leituras: Se numa noite de Inverno um viajante

Se numa noite de Inverno um viajante, de Italo Calvino

«- Não se admire de me ver sempre a vaguear com os olhos. De facto é esta a minha maneira de ler, e só assim a leitura me é proveitosa. Se um livro me interessar realmente, não consigo segui-lo mais de poucas linhas porque a minha mente, captando um pensamento que o texto lhe propõe, ou um sentimento, ou uma interrogação, ou uma imagem, faz-lhe uma tangente e salta de pensamento em pensamento, de imagem em imagem, num itinerário de raciocínios e fantasias que precisa de percorrer até ao fim, afastando-me do livro até perdê-lo de vista. É-me indispensável o estímulo da leitura, e de uma leitura suculenta, embora só consiga ler de cada livro poucas páginas. Mas essas poucas páginas para mim já encerram o universo inteiro de que não consigo ver o fundo.»

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18 maio 2006 

Da arte de subir na vida

E pensar que ainda há dias, noutra casa antes desta, desabafava estar "farto, farto, farto, farto, farto, farto, farto, farto, farto, farto, farto, farto, farto, farto, farto de incompetentes" e me queixava de "incompetentes amadores, incompetentes profissionais, incompetentes instituídos e faltas de respeito..."

Ontem, um desses mesmos "incompetentes instituídos" passou-me a perna, ultrapassou-me, pontapeou-me para trás e espezinhou-me sem pudor e sem sequer ter a coragem de mostrar a cara e me olhar nos olhos enquanto anulava o meu passado mais recente.

Definitivamente, não ganha quem faz. Ganha quem diz.

 

Breviário de fitas: o código do filme do livro que parece um filme

Como seria de esperar, o filme do livro que se lê como se se estivesse a ver um filme não é tão bom como o livro que foi escrito como se fosse um filme. Não que o filme do livro que nasceu para ser filme seja um mau filme, que não é. Não que o livro que parece um filme seja uma obra literária tão genial quanto intransponível para o cinema, que não é. Mas a verdade é que o filme do livro que é quase um filme não consegue captar tudo aquilo que o livro quase filme transmite - não se vêem as motivações nem as justificações que se liam, não se crê em Leonardo nem no Graal com a mesma intensidade, não se sentem as surpresas nem os sobressaltos que se descobriam com o devorar das palavras, das páginas, dos capítulos feitos para serem devorados como se devoram as pipocas de um filme emocionante.

O que o livro que é como um filme tem que o filme do livro que queria ser um filme não tem é vontade de desbravar. Limita-se a querer mostrar o que foi antes desbravado. E assim, onde antes havia suspense há agora previsibilidade, onde havia emotividade há lamechice, onde havia o silêncio de um candeeiro há uma banda-sonora esquecível... O livro quase filme foi alimento para a fome que ele próprio criou. O filme do livro-filme é pura gulodice.

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16 maio 2006 

Confissão

Sim. Fui Quinto Galarza.
Fui Mestre Nestor Alvito e Homem Basco.
Fui Quiche Gonzaga e Hortênsio Flor.
Fui editor. Demissionário.
Fui poeta parco e prosador parvo.
Fui autor de estórias más.
Fui mau actor em palco tosco...
...para um público pouco.

Agora, sou só eu.

 

Breviário de sons: cinco minutos de Jay-Z

The Blakey Album, Dirty Drummer

Ou como o jazz se sabe deixar levar pela arte do mash-up às mãos de Dirty Drummer, genial bootlegger que mixou o jazz cool e fumegante de Art Blakey e o hip-hop brusco e musculado de Jay-Z para criar "The Blakey Album - Art Blakey and the Jay-Z Messengers". Para ouvir de olhos fechados e punhos cerrados.

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Breve resenha de um sábado intenso (ou proposta de itinerário para dia de aniversário)

Um farto pequeno-almoço entregue ao domícilio.
Uma viagem sem aviso entre Lisboa e Évora.
Um almoço inesperado com a família na Cozinha de Santo Humberto.
Um salto-surpresa de pára-quedas no aeródromo de Évora.
Uma viagem atribulada entre Évora e Lisboa.
Um jantar com amigos no restaurante japonês Samurai.
Um brinde no Santiago Alquimista.

12 maio 2006 

Às vezes (breve perfil do usuário)

Às vezes gosto de ouvir música. Às vezes ouço por obrigação. Às vezes gosto de ir ao cinema. Às vezes não quero ter nada para ver. Às vezes gosto de ler livros. Às vezes desisto antes de perceber se gosto. Às vezes apetece-me. Às vezes não. Às vezes deixo a barba por fazer. Às vezes não. Às vezes sei o que vestir pela manhã. Às vezes não. Às vezes levanto-me cedo. A maior parte das vezes não. Às vezes deito-me cedo. Ou nem por isso. Às vezes gosto de ter um blog. Às vezes...

11 maio 2006 

É que não consigo deixar de olhar (escritos enjeitados)

Hoje, por um qualquer acaso ou coincidência demais, recebi uma foto da tua irmã no mail. Da tua irmã cantora. Por segundos pensei que eras tu. Por segundos arrepiou-se-me a espinha, um calafrio percorreu-me as costas e uma angústia (velha conhecida mas há muito esquecida) apertou-me o estômago. Por segundos acreditei que aqueles eram os teus olhos, que aquele era o teu sorriso. Só à segunda vista percebi que não eras tu, que era a tua irmã. A tua irmã que não conheço e para quem nunca antes tinha olhado. Mas quis acreditar que aqueles eram os teus olhos, que aquele era o teu sorriso. E por segundos, para mim, aqueles foram mesmo os teus olhos, aquele foi mesmo o teu sorriso. E foi então, à segunda vista, que percebi que, por mais que olhe para a tua irmã, para a fotografia da tua irmã, irei para sempre ver-te a ti. E foi só agora que percebi que, para onde quer que olhe, vou sempre ver-te a ti...

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Os livros (breve biblioteca do entretanto)

Não pode este Breviário arrancar sem a devida vénia aos livros que, nos últimos meses, entre a velha tertúlia e a nova morada, me inspiraram, comoveram e alegraram, me fizeram descobrir estórias antigas, rir à gargalhada e sorrir melancólico ou que simplesmente me deixaram de boca aberta, assombrado pela leveza das suas palavras:

Naïf.Super, de Erlend Loe Sr. Bentley, O Enraba Passarinhos, de Ágata Ramos Simões O Pequeno Livro do Grande Terramoto, de Rui Tavares
Primeiro As Senhoras, de Mário Zambujal O Melhor das Comédias da Vida Privada, de Luis Fernando Veríssimo Budapeste, de Chico Buarque

10 maio 2006 

No princípio, era a vontade

Isto de se ter e deixar de ter tem o que se lhe diga. Confesse-se: fui um Galarza, ainda hoje o sou. Mas o tempo gosta de varrer para baixo do tapete a poeira dos dias e deixar-se perder. Ou fazer-nos perdê-lo, o tempo.

Depois de quase três anos a galarzar por aí, aconteceu que a tertúlia onde jorrei quilómetros de mim, onde vivi as vidas dos meus amigos/irmãos e com eles (e os outros) partilhei os meus passos, se deu ares de fartura. Cedeu ao cansaço, à rotina, à raiva, à zanga. E desfaleceu entre faltas de vontade e faltas de confiança.

O dia em que nasceu a primavera de dois-mil-e-seis marcou o fim de uma era. Pelo menos, para mim. De tal forma que, nos últimos meses, mal tenho tido vontade - ou, tão simplesmente, coragem - de voltar a este bairro virtual, cujas ruas calcorreei durante anos, cujos vizinhos aprendi a respeitar entre postas e palavras e partilhas.

Mas isto de se ter e deixar de ter tem muito que se lhe diga. Porque depois de, durante anos, ter tido por aqui um poiso onde encostar a cabeça, um sofá onde confessar a vida, uma página em branco para encher e preencher e deixar crescer... dei por mim sem espaço, sem um lugar que sentisse meu, a quem dar de comer as palavras e os escritos que tinha, fugidios, na ponta dos dedos, por baixo da língua, na vontade de escrever, escrever, escrever...

Eis-me, assim, aqui. É verdade que, no entretanto, deram-me abrigo noutros albergues (que continuarei a frequentar sem pedir licença, como se frequenta a casa dos amigos mais próximos). Mas esta será, de hoje em diante, a minha casa. O meu poiso. O meu sofá. A minha página em branco.

Eis-me aqui. E vós, sois todos bem-vindos.

B.I.

Coisas Breves

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