De cima, Marrocos é todo da mesma cor. As cidades e as aldeias são da côr da terra. Tudo é castanho.
O aeroporto de Marraquexe é pequeno, velho e lento.
Entre o aeroporto e a cidade é só calor, calor, calor; hotéis, hotéis, hotéis; motas, motas, motas.
O trânsito - de carros e peões - é um caos organizado.
Em Marraquexe o que choca é a diversidade e a tolerância: adolescentes marroquinas com ar perfeitamente ocidental caminham de mão dada com outras completamente tapadas e lado a lado com marroquinos de rasta e t-shirt da selecção brasileira.
O centro da cidade tem um ar degradado e velho mas cheio de vida.
A cidade pára durante a tarde e vibra durante a noite.
Não há nada como beber um chá de menta ao pôr do sol no terraço do Café des Epices, no meio dos labirínticos e coloridos souks de Marraquexe.
Os Izenzarine são "os Pink Floyd marroquinos". O seu antigo líder é agora um eremita: vive numa montanha no meio do deserto com o seu cão a fumar haxixe.
De viagem, a terra é da cor do barro. Depois verde. Depois cor de argila. Depois areia. E, de repente, o deserto.
Em Taddard há um hotel chamado Le Coq Hardi. No vale desértico de Col du Tichka há um restaurante no leito de um rio seco. Em Ait Ben Haddou há um Auberge Bilal, um snack Buvette e uma mercearia com montras cheias de sumos Compal e bolachas Proalimentar. No restaurante serve-se omelete berbere.
O kasbah de Ait Ben Haddou é maravilhoso e imponente.
Depois de quilómetros de pedra preta, os montes Atlas transformam-se numa impressionante palete de cores.
O vale de Draa é um oásis infindável: cerca de 130 quilómetros de palmeiras e aldeias rodeadas de deserto.
No meio do deserto, ergue-se N'koob - uma típica aldeia de emigrantes, com casas de azulejo e construções kitsch.
Depois, seguem-se areia, pedregulhos e montanhas. Desfiladeiros imensos e uma imensidão de nada... E manadas de dromedários à solta.
De camelo, são precisas duas horas para fazer seis quilómetros pelas dunas, deserto adentro. Um dos camelos chama-se Jimi Hendrix. Num pequeno oásis (uma árvore num pequeno vale, entre dunas de duzentos metros de altura), depois do jantar, os tuaregues tocam djambé e cantam Bob Marley.
Passar uma noite no deserto é como dormir num "hotel de millones de estrellas".
Em Rissani, o almoço é medfura - ou, como nos dizem, pizza berbere - servida numa loja de artesanto.
Em dois dias, tomámos o pequeno-almoço com tuaregues, almoçámos com dois berberes, dois árabes e um beduíno, bebemos chá com um grupo de músicos do Mali e bebemos mais chá com uma família de nómadas.
Ao longo da viagem pelo Atlas e pelo deserto, todas os dias se comia melhor e todas as noites eram passadas numa espelunca maior que a anterior (uma tinha carpete vermelha nas paredes e no tecto; outra tinha a sanita no chuveiro).
Nos primeiros dias do Ramadão, as pessoas ficam loucas de fome. Assim que o sol se põe, as ruas ficam vazias.
Na televisão marroquina, as notícias são em francês, os anúncios em árabe, o Don Jonhson fala berbere e o Lost é dobrado em francês. Enquanto na Al-Jazeera dava um documentário sobre a Andaluzia, noutro canal dava um filme do Tom Cruise dobrado em árabe.
Em Marraquexe, três viagens de táxi ficaram em quatro euros e meio. Mas o Ramadão não impede alguns taxistas de enganarem os turistas.
As farmácias de Marraquexe (as ditas ervanárias berbere) são verdadeiros antros da banha da cobra, onde tudo se vende e todos são guias turísticos.
Essaouira (a duas horas e meia de Marraquexe) é uma Sesimbra em Marrocos: uma cidade branca com um forte português, uma traça medieval, uma lota enorme e peixe do melhor.
A cidade está cheia de sósias de Bob Marley, sonha com Jimi Hendrix e tem uma praça dedicada a Orson Welles.
Na memória: whiskey berbere, omolete berbere, pizza berbere, farmácia berbere, autobus berbere... e um país deslumbrante.
[Perto do fim, a pior notícia de uma vida e o pior regresso a casa de sempre... Na volta, um vazio profundo a enegrecer uma das melhores semanas de todos os tempos e a pintar de tristeza umas férias inesquecíveis.]
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