O Aeroporto de Lisboa é pouco recomendável a um sábado de manhã, a não ser que se tenha um fetiche por filas. Em hora e meia, estivémos em nove filas: a fila para o check-in, a fila para os jornais, a fila para entrar nas partidas, a fila para ser revistado, a fila para os câmbios, a fila para entrar na zona de embarques, a fila no próprio portão de embarque, a fila para o autocarro de acesso ao avião e a fila no próprio do avião!
À chega ao aeroporto de Praga, a primeira imagem é a de um restaurante chamado Porto Caffé.
Os táxis parecem garrafas de óleo de fritar batatas: são amarelos e têm três 'A' escrito de lado.
No autocarro, a caminho da cidade, a imagem que nos vem à cabeça é a de que aterrámos num filme do Kusturica. Tudo se dissolve com a aproximação de um McDonalds à beira da estrada.
Chegámos ao hotel no intervalo do jogo. A tempo de vermos os golos de Deco e Cristiano Ronaldo, com relato em checo.
A praça principal de Praga (o centro da chamada Cidade Velha) parece um estádio do Mundial, com um ecrã gigante e milhares de adeptos checos e turistas de todos os países.
Num dos lados da Praça da Cidade Velha, o relógio astronómico exibe-se hora a hora para os milhares de turistas de câmara apontada que esperam pacientemente a parada de apóstolos de madeira.
No outro lado, dois enormes torreões saídos de um conto de fadas gótico anunciam uma igreja gigantesca, cuja entrada está escondida num discreto e minúsculo beco, atrás de umas arcadas.
Em Praga há uma praça com duas igrejas e duas igrejas com o mesmo nome.
Praga está cheia de Porsches e Ferraris, mas há 15 Skodas por cada carro de outra marca. E há 10 pizzarias por cada restaurante de qualquer outro tipo. Percebe-se: a comida checa é uma seca (o prato mais típico é húngaro e o resto é carne assada com pão).
Em quase todos os restaurantes nos cobram qualquer coisa que não comemos ou se enganam nos trocos...
É no bairro judeu que estão as lojas de marca e de luxo. É também no bairro judeu que os monumentos são mais caros. No bairro judeu, tudo se paga.
É extraordinário ver o Mundial na Praça da Cidade Velha. Há sempre festa e gente dos países que estão a jogar: desde checos a ver a sua selecção a perder até norte-americanos a gritar pela sua equipe (e nunca vi eu tantos americanos a ver futebol com gosto); desde brasileiros a australianos, desde coreanos a portugueses (muitos portugueses).
Toda a cidade está engalanada para o Mundial: as lojas de recordações vendem camisolas das selecções, cachecóis, bonés e até matrioscas com as cores das selecções e a cara dos jogadores. Em todos os cafés e restaurantes há televisões e ecrãs gigantes. Todos anunciam os jogos do dia por baixo dos pratos do dia.
Na República Checa há um canal de televisão que dá os jogos todos - todos - do Mundial. O canal é de sinal aberto e acesso livre. E dá os jogos todos. Todos!
Poborsky é omnipresente. Em todo o lado se vêm camisolas e anúncios do jogador, que até tem uma loja de desporto no centro da cidade.
O Castelo de Praga é imponente. É um misto de estilos e cores, acrescentados ao longo dos tempos para fazer dele uma verdadeira manta de retalhos, mas em tamanho épico.
Por baixo da Ponte Carlos (seria uma das mais belas do mundo, não fosse o enxame de vendedores) há o Café Marnice. Que os checos não frequentam. É que "Marnice" quer dizer "crematório". Chama-se assim porque foi construído no local onde era o antigo crematório de Praga. Dizem que o Café Marnice tem o café mais forte de Praga.
As estações do Mustek (o metro de Praga) são simples e práticas. E são em estilo arte-pop industrial...
Já a principal estação de comboios da cidade é escura, feia, degradante e vítima de falta de informação e organização. Típica dos países de leste, dizem-me.
A 70km de Praga há uma pequena terra chamada Carslav. É a cidade das crianças: à hora de almoço, não há adultos na cidade, só crianças e adolescentes no intervalo das aulas.
A alguns quilómetros, a cidade de Kutna Hora é paragem obrigatória: património da Unesco, tem uma mina cuja visita é uma experiência única, mesmo que não se perceba rigorosamente nada do que a guia está a dizer. No ponto mais alto da cidade, a igreja de Santa Bárbara tem um vitral de 1903 onde aparece o Elvis vestido de monge.
O Cirkus Praha está estacionado em Kolín, atrás do Bowling, por baixo da ponte.
No dia do regresso, almoçámos no Porto.
No avião para Lisboa, o comandante desejou-nos boa viagem e disse que ainda chegaríamos a tempo do resumo do Portugal-México. Durante o vôo, foi actualizando o resultado. As hospedeiras traziam cachecóis de Portugal.
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